quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Vagas existem, mas os candidatos não estão qualificados - v2009

Conforme bem lembrado por um leitor do meu blog, em 2006 dei uma entrevista ao Correio de Uberlândia, tratando do tema da existência de grande quantidade de vagas na área de TI sem candidatos com qualificação mínima aos cargos.

Naquela época eu e outros profissionais de TI de Uberlândia apontávamos para o problema da baixa qualidade do ensino superior na região, o que na verdade é um problema nacional.

Vale dar uma lida. O tema continua atual.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Os rumos da educação em TI

Esse é um dos assuntos que mais me interessam e motivam. Primeiro, por que sou professor de cursos de graduação e pós-graduação há mais de 10 anos. Segundo, por que são estes profissionais recém-saídos das faculdades a massa crítica em que fico de olho para cobrir as vagas disponíveis nos times sob minha gestão e para encaminhar aos clientes para quem presto consultoria.

Desde que iniciei minha vida acadêmica em 1989, ainda como aluno do curso de engenharia eletrônica, ficou evidente um forte distanciamento entre as universidades e as empresas. De um lado, as empresas não tinham um foco em P&D (pesquisa e desenvolvimento) e, como resultado, muitas utilizavam tecnologias desatualizadas, perdiam oportunidade de melhorar seus processos pela falta de contato com novas tecnologias e de se beneficiarem de processos de inovação que são nativos dentro dos ambientes acadêmicos. Do outro lado, as faculdades acabavam oferecendo uma abordagem para o conteúdo das disciplinas bastante distante da realidade de mercado, o que é até hoje suportado por uma política educacional retrógrada que restringe a participação de professores universitários (das federais) em atividades de consultoria e projetos junto às empresas. Para quem não sabe, em geral os professores universitários federais estão sujeitos a uma modalidade de contratação que os coloca no regime de "DE" (dedicação exclusiva), o que os proíbe de atuar no mercado ou quando permite, através de unidades de fomento dentro das universidades, restringe em muito os valores recebidos pelos pesquisadores nestas "consultorias", o que acaba por desmotivá-los.

Em 1996 iniciei minha experiência como professor de cursos de graduação e pós-graduação em computação, em cursos de 5 anos de duração em algumas faculdades particulares. Foi uma experiência extremamente gratificante pois a inclusão de temas "da crista da onda" em sala de aula, com uma abordagem voltada para a aplicação no mercado, era algo muito bem recebido. Foi assim que tive a oportunidade de implantar o ensino da UML ainda em 1997 e do desenvolvimento em JavaEE no começo do ano 2000, quando poucas empresas mal falavam do assunto. Foi também esse relacionamento faculdade-empresa que me deu a oportunidade de levar os conteúdos de sala de aula para aplicações do mundo real, através dos trabalhos de consultoria.

Infelizmente ao longo dos anos veio ocorrendo um processo de massificação da educação da educação superior, o que seria algo extremamente positivo se não viesse acompanhada de uma redução proporcional da qualidade e da quantidade do conteúdo abordado.

Com a desculpa de buscar uma “adaptação às exigências do mercado”, as faculdades iniciaram um processo de redução da duração dos cursos de graduação, chegando ao absurdo de encontrarmos anúncios de “graduação em 2 anos” ou “graduação mais uma pós-graduação em 3 anos”. As faculdades apresentam sua defesa afirmando que estes cursos focam as pessoas que já estão no mercado e que não tem um diploma, mas para esta desculpa ser válida o processo seletivo para ingresso nestes cursos deveria incluir uma avaliação criteriosa da experiência de mercado destas pessoas, só que isto não ocorre. Qualquer um entra nestes cursos.

Infelizmente estes ingressantes são iludidos com a falsa promessa de que o diploma lhes garantirá um emprego. Triste ilusão. Atualmente as empresas, principalmente de TI, estão focando num processo seletivo rigoroso, que avalia conhecimento técnico, formação e experiência. Conheço vários executivos que excluem de imediato os candidatos sem experiência de mercado que fizeram cursos de duração inferior a 4 anos.

O fato é que o mercado de TI é um dos mercados mais competitivos que existem. A todo ano surgem novas tecnologias e se você não estiver atualizado dificilmente conseguirá manter-se em boa posição ao longo do tempo, mesmo que você esteja focando uma posição gerencial. As posições gerenciais em TI, além do conhecimento de gestão de projetos, pessoas e negócios, exigem forte embasamento técnico para que a comunicação com o time ocorra de forma tranquila.

Se você é um profissional com experiência de vários anos de mercado mas não tem uma formação universitária, procure uma faculdade que realmente forneça conteúdo de qualidade para suportar sua experiência. Conheço muitos bons profissionais, técnicos com vários anos de experiência, que empacam quando surgem temas como teste de stress, complexidade algoritmica, desenvolvimento multi-threading, estruturas de dados e temas afins que são ferramentas que esperamos que um bom técnico domine e que, vez por outra, são requeridas para a solução de problemas.

Se você está para ingressar na faculdade, fique esperto. Estude a estrutura do curso, discuta as ementas com amigos com boa formação e que sejam atuantes no mercado. Verifique o corpo docente. Em TI é fundamental uma boa formação acadêmica aliada a uma forte experiência de mercado. Professores sem este perfil dificilmente contribuirão com a sua formação. E prepare-se para estudar muito, mas muito, fora da sala de aula.

E, finalmente, lembre-se que para toda regra existem exceções. Temos sim faculdades particulares excelentes. Temos sim professores formados em faculdades de 2ª linha que são excelentes. Mas, infelizmente, são exceções.