terça-feira, 3 de março de 2009

Cotas raciais nas universidades: Para que mais preconceito?

Dois de meus artigos anteriores revisitaram o tema da qualidade na educação em TI. Coincidentemente chega às minhas mãos a revista Veja de 04/03/2009 que, dentre outros artigos igualmente interessantes, possui um que em especial mexeu com aquele "eu" que tenho aqui dentro, que vive indignado com a incompetência e falta de inteligência de nossos governantes. O tema é a questão das cotas raciais nas universidades.

Que país é esse que para fingir que é capaz de solucionar problemas históricos de uma hora para outra cria uma solução tão abominável, tão imbecil, que só terá como efeito aumentar o preconceito e as diferencas raciais? Que país é esse que atribui seu sucesso à diversidade, que prega uma riqueza cultural fruto de uma intensa mistura de raças, que prega a tolerância e igualdade, e que agora vem dizer que as pessoas devem ser privilegiadas pela sua cor, pela sua raça, ou por débitos sociais do passado, e não pelo mérito pessoal? Tem algum valor o inciso quarto do artigo terceiro de nossa constituição? Para que serve aquela porcaria de artigo quinto? Ou talvez eu esteja levando muito a sério aquele texto escrito pelos incompetentes que vem ocupando os cargos maiores de nossa política (Desculpe mas não dá para chamar isso de governantes).

Temos um governo covarde, incapaz de encarar suas incompetências e de trabalhar, de fato, no sentido de buscar a igualdade social no longo prazo. Desde quando o problema da educação será resolvido nas universidades? Não é preciso ter diploma e ser professor para saber que um pobre coitado que estudou nas ridículas escolas públicas de nosso país será incapaz de acompanhar o nível de exigência das federais. Ou será que também teremos um sistema de avaliação em separado para os negros, onde as provas a eles aplicadas tenham peso diferente daquelas aplicadas aos brancos? E a OAB, vai aplicar um teste especial para os negros? Teremos residência médica com nível diferente de exigência para negros e brancos? O governo pagará terapia para aqueles que não conseguirem sucesso após 5 anos de curso com pouca possibilidade aproveitamento? Certamente a resposta será um sonoro NÃO, para todas estes questionamentos.

A maioria dos cursos das federais tem de 4 a 5 anos de duracão. Como professor universitário posso afirmar que é simplesmente impossível sanar as deficiências oriundas do primeiro e segundo graus e, ao mesmo tempo, preparar o aluno para o competitivo mercado de trabalho. O resultado será obvio: os 50% que entraram na faculdade sem o preparo necessário serão selecionados pelo mercado. Certamente os empregadores passarão a selecionar os candidatos pela sua cor... afinal, é de se imaginar que um branco terá conseguido melhor aproveitamento que um negro que tenha entrado pelo regime de cotas. Hoje já é fato que existe um preconceito na selecão entre alunos de federais e particulares. Como profissional de mercado, sei disso. A coisa só vai piorar.

Se é para falarmos de cotas, cadê as cotas para nordestinos, para favelados, para índios, amazonenses que vivem nas florestas e beiras de rio. Ora, por que não criar uma lei que obrigue as escolas particulares de primeiro e segundo grau a oferecerem 50% de suas vagas de forma gratuita, ou bancada pelo governo, para os "oprimidos"? .

Não, nenhuma destas solucões bizarras surtiria resultado.

O problema das desigualdades sociais está na educacão de base, na raiz do problema, único local de onde será possível partir para um país mais justo. O que é preciso é que o governo cumpra a sua responsabilidade e obrigacão com a educacão e que sejam feitas leis que obriguem a continuidade das ações de melhoria da educação ao longo de cada mandato, suportada por um plano estratégico de longo prazo, por que não será em 4 nem em 8 anos que esse problema será resolvido.

O que precisamos hoje é de uma educacão primária e secundária que seja muito, mas muito melhor que as de primeiro mundo. Nosso caríssimo presidente prega que investimos em educação o mesmo que os países de primeiro mundo, só que ele se esquece que a educação deles já é de primeiro mundo e, portanto, o investimento deles é para manutencão e não para construção. Ou será que uma pessoa que sofre de grave câncer precisa da mesma dose de analgésico que alguém que tem uma simples dor de cabeca? Nossa educacão está muito doente e precisa de tratamento condizente.

Precisamos de escolas públicas de período integral, onde os alunos possam aprender no mínimo inglês e espanhol, que possam estudar música, sociologia e até mesmo política, para que tenhamos cidadãos preparados para a selecão dos governantes. A profissão de professor da rede pública precisa ser valorizada, ao ponto de haver grande concorrência para estes cargos e que, com isso, tivéssemos os melhores profissionais preparando nossas crianças.

Será que o dinheiro que suporta movimentos delinquentes como o MST não poderia ser melhor aplicado numa política de base? Será que os milhões gastos em assistencialismo não seriam melhor investidos em escolas que mantivessem nossas criancas aprendendo o dia todo, preparando cidadãos bem alimentados e bem formados?

É claro, o governo irá alegar que não tem verba para promover tal investimento em todo país. Concordo em parte. Acabei de ler um artigo na Agência Brasil, dizendo que nosso país irá doar US$ 10 milhões para a reconstrução da Faixa de Gaza. Pelo jeito está sobrando muito, mas muito dinheiro.

A questão é que este dinheiro não é suficiente? Ótimo, sejamos seletivos. Se é para sermos seletivos, que selecionemos não pela cor, mas pela necessidade. Se não há recursos para resolver o problema em todo o país, vamos implantar as melhores escolas junto às populacões mais carentes. Vamos selecionar o ingresso nessas escolas pela carência social e pela dedicacão. E vamos tratar todos estes alunos de forma igual, sejam brancos, negros, pardos, mulatos, mamelucos, nordestinos, paulistanos... que sejam todos brasileiros igualmente respeitados e merecedores de uma distribuição justa dos recursos que vem dos bolsos de cada um de nós.

É fácil desviar o olhar de uma populacão mal formada, carente de conciência política, e fazer brilhar a estrela de acões politiqueiras como é esse esquema preconceituoso das cotas raciais nas universidades. Difícil é assumir a responsabilidade constituicional que cabe a nossos governantes e criar um plano de recuperacão social que só surtirá resultado daqui a 3 ou 4 mandatos, quando o então presidente poderá nem ser do partido do idealizador. Por que, afinal, estes planos não são do partido e sim do povo e é para este último que os governantes devem trabalhar.

Neste contexto geral de qualidade da educação, vale dar os parabéns para o senador Cristovam Buarque, que apresentou projeto de lei que deverá obrigar os filhos de políticos a estudar em escolas públicas. Pode ser um caminho para "estimular" a atenção para onde os investimentos são realmente necessários.

Quero terminar este artigo com um apelo: posicionem-se contra este absurdo. Divulgem, critiquem, comentem, se expressem.

E para terminar, desculpem o tom de indignação. Mas não dá para ficar sereno com essas notícias.