Vamos começar 2009 abordando um tema dos mais chatos, subjetivos e, apesar disso, importantes para o mundo dos negócios: a política dentro das organizações.
Na sua raiz, política refere-se às relações em sociedade e à "felicidade coletiva". O tema está nas bases da filosofia, sendo atribuída ao caríssimo Aristóteles a famosa frase "o homem é um animal político".
Uma organização é um ecossistema suportado por leis e regras próprias daquele ambiente, moldadas pelo mercado e pelas pessoas nele inseridas. Com o passar do tempo, as organizações começam a sedimentar posturas éticas e comportamentais de grupo próprias, particulares, formando aquilo que chamamos de "
cultura organizacional".
Dentro deste ambiente, o profissional deve guiar suas ações por duas linhas. Uma, objetiva, consiste em aplicar seu conhecimento e experiência, no caráter técnico e organizacional, visando alcançar os objetivos da organização (normalmente suportados por um
planejamento estratégico). Neste contexto, o profissional é uma das engrenagens que faz a máquina corporativa funcionar. No entanto existe uma outra linha, subjetiva, onde o profissional tem que orquestrar os relacionamentos dentro da empresa, buscando suporte às suas idéias e ações, por parte dos superiores, pares e subordinados, para que consiga executar de forma eficiente suas atividades.
À primeira vista, para quem tem uma mente mais objetiva, ficamos imaginando por que precisamos de "convencimento", "apoio", "relacionamento" para conseguir trabalhar direito, partindo da premissa que nossas ações estão embasadas num desdobramento tático de um plano estratégico corporativo.
Ora, felizmente ou infelizmente não estamos lidando com máquinas. As pessoas possuem
ego, interesses pessoais, afetos e desafetos e até variações de humor que podem afetar o desempenho das relações profissionais, do ponto de vista do resultado corporativo. Existem as desavenças departamentais, quando por exemplo o diretor de compras simplemente odeia o diretor de logística (talvez não torçam para o mesmo time) e por isso faz de tudo para empacar as demandas da área de logistica, obviamente sempre dando um jeitinho de deixar claro que a culpa pelos atrasos e problemas foi alguma incompetência da área desafeta.
Outro ponto importante é a cultura. Existem organizações que estimulam a cooperação, enquanto em outras há o "
status quo" de que todo mundo tem que implorar para conseguir apoio a suas atividades.
Infelizmente é uma verdade com que temos que conviver e faz parte sim da maturidade profissional aprender a navegar nesse mar de incertezas comportamentais. No entanto certamente iremos passar por ambientes onde será impossível manter-se inserido na cultura (ou seja, o nosso santo não bate com o da empresa). Nestes casos, sinceramente, entre a felicidade da empresa e a minha, fico com a última e vou embora para o mercado.
Para finalizar, vamos citar Max Gehringer, num artigo de 2006 para a revista Época, quando respondeu o que significa ser político dentro de uma empresa:
"É fazer o que os políticos de verdade fazem, com aquela competência pegajosa:
- Aprender a engolir sapos, e ainda pedir para repetir o prato;
- Saber costurar alianças profissionais, mesmo que a outra pessoa seja detestável;
- Aceitar as críticas com ar de humildade;
- Não se prevalecer de um cargo, ou de uma situação, para humilhar ou menosprezar colegas;
- Elogiar quem mercer um elogio;
- Dar sempre a impressão de que está disposto a colaborar;
- Ser um bom ouvinte.
Em síntese, ser político numa empresa é ter todas as obrigações que um político profissional tem. Sem nenhuma das vantagens que eles têm".
Ou seja, é ter muito, mas muito saco. Mesmo as mulheres.